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O mundo caminha para a descarbonização

21/11/2022

Segundo Eduardo Raffaini, líder da área de Infraestrutura e Projetos da Deloitte Capital Projects & Assets, a preocupação com o aquecimento global está levando à busca da descarbonização. Como? “Através de energias renováveis, energias verdes, ou seja, deixar de usar combustíveis fósseis, que são geradores de carbono. E também transformar a indústria para produzir menos metano, que é tão poluente e até mais agressivo com a camada de ozônio que o dióxido de carbono.”

Ele observa que a descarbonização é universal, vai ser exigida de todos e vai impactar em todos os segmentos, todas as geografias e comunidades. “Alguns setores vão se transformar mais rapidamente que outros assim como alguns países possuem melhor estrutura. O mundo precisa modificar seus ativos para construir energia renovável, transformar uma indústria que hoje consome diesel ou energia fóssil para energia verde ou melhorar a eficiência energética. A estimativa é de que serão necessários quase 100 trilhões de dólares nos próximos 30 anos para descarbonizar todos esses ativos, um investimento de cerca de 3,3 trilhões de dólares ao ano.”

Recursos escassos

O problema é: de onde virão esses recursos? “Os governos não conseguem financiar nem a manutenção da infraestrutura que já têm, menos ainda investir em novas”, enfatiza Eduardo Raffaini. “O setor privado também tem muitas restrições. Num primeiro momento, vai haver um aumento de custos, pois é necessário criar uma infraestrutura nova, vai se pagar por uma energia mais cara. Mas, aumentando a escala, começa a baratear. O Brasil necessita de cerca de 1,3 trilhão de reais para atualizar sua infraestrutura. Isso só será possível se houver leis que obriguem as empresas a descarbonizar e sejam dados incentivos. Com certeza, a conta acaba sendo paga pelo consumidor final.”

Aí entra o impasse: quem está disposto a pagar um pouco mais para ter um mundo mais verde? “É uma questão cultural, de conscientização, de mudança de comportamento. Acredito que a geração dos 50 anos esteja menos disposta, mas os jovens, a geração dos 18 anos começa a ter essa conscientização. Viver num mundo melhor é uma decisão da sociedade.”

Poluição desigual

Alguns setores têm ativos mais intensivos em matéria de poluentes e vão sofrer mais para se adaptar. “O principal é o transporte rodoviário, responsável por 90% das emissões de CO2 no mundo”, afirma o executivo. “Não estou falando de ônibus ou automóveis, mas do transporte de mercadorias que, com a pandemia, aumentou substancialmente. São pequenas distâncias para a entrega de produtos nas casas. Não há incentivo para as empresas investirem em tecnologias menos poluentes porque o consumidor não quer pagar a conta, ele quer um frete mais barato ou até frete zero.”

Outro segmento bastante poluidor é a produção de aço, responsável por 6 a 7% das emissões. Os fornos necessitam de altas temperaturas, normalmente utilizam carvão e sua substituição é muito dispendiosa. O cimento também responde por 6% das emissões, seguido pelo setor petroquímico. “Ainda faltam tecnologia e incentivos governamentais para realizar essas mudanças, mas não é uma questão de se, mas quando isso vai acontecer, porque é uma transformação obrigatória.”

Um grande desafio

Toda vez que consegue comprar energia de uma matriz limpa, você está descarbonizando assim como precisa de menos energia para gerar o mesmo produto. “As grandes empresas brasileiras vão acompanhar esse ritmo mundial. O maior desafio é a parte de infraestrutura, onde nos falta o básico, não só no tocante a saneamento, mas nos setores de rodovias e ferrovias. O Brasil tem um grande gap nesse sentido e, ao mesmo tempo, uma ótima oportunidade de negócios através do hidrogênio verde. A Europa hoje é muito dependente do gás da Rússia e busca uma saída para a transição verde. O Brasil tem uma grande fonte de renováveis através das energias eólica e solar. Temos uma quantidade significativa de vento principalmente na região Norte e no Rio Grande do Sul. Segundo estudos, podemos gerar até 200 gigawatts com a energia eólica. Para se ter uma ideia, nossa capacidade atual total de geração elétrica hoje é de 200 gigawatts. Sem contar a energia solar, pois o país é privilegiado em matéria de sol. Se conseguirmos abrir essas portas, nos tornaremos grandes geradores de energias limpas, não só barateando a nossa própria energia como nos tornando um player relevante para o fornecimento de energia verde também para a Europa e os Estados Unidos.”


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